Com balanços, retrospectivas, correcções e palpitações? Pega-se em papel e escreve-se, escreve-se, escreve-se. Mas só letras. A imitar conteúdos. E eu… não quero. Desagrada-me esse gosto amargo do pensamento abandonado em folhas, quase morto, obrigado a ser.
Podia abrir o peito e mostrar-vos como vou de vida. De dentro para fora como deve ser mostrada a vida. Mas deve doer.
Podia não resumir, não balançar… evitava enjoos ou desagrados. Mas deve doer ainda mais, isso de ficar fechada em mim.
Vou partilhar instantes. Os intervalos das histórias e mergulhos e delírios que já conhecem. Sem forma de resumo. Apenas instantes. Com a brevidade de terem um mundo dentro.
Podia abrir o peito e mostrar-vos como vou de vida. De dentro para fora como deve ser mostrada a vida. Mas deve doer.
Podia não resumir, não balançar… evitava enjoos ou desagrados. Mas deve doer ainda mais, isso de ficar fechada em mim.
Vou partilhar instantes. Os intervalos das histórias e mergulhos e delírios que já conhecem. Sem forma de resumo. Apenas instantes. Com a brevidade de terem um mundo dentro.
Pois é, os cajus não vêm em pacotes. Vêm com uma maçã deliciosa que experimentei alimentando a minha ignorância. Doce. Áspero. Uma surpresa.
A curiosidade de um “prego no prato”. Nada mais fácil. Quer no prato, traz-se o prato! Complicamos demais.
Clara vs Escorpião.
Eu: sentada na sanita (sim, eu também…), ouço um barulho, mesmo por trás das costas, um balde mínimo a cair, a minha mão dentro do balde, um escorpião lá dentro.
Ele: No telhado de uma casa no campo, a curtir e…. caio num balde minúsculo e não numas costas, vejo uma mão branca e não aproveito.
Eu: que nojo!
Ele: que nojo!
Eu: Sou um animal de sorte.
Ele: Desisto de ser animal.
Mas vive agora no terreno aqui da frente. Suponho que a fazer terapia.
Aquele é um canto do meu quarto. Aquele é também um morcego. Não lhe dei nome, não quero apegar-me demasiado.
Ainda bem que me dediquei à ginástica rítmica. Arcos e bolas ainda vá, armas de fogo… como é que se pega nisto?
Qual apostam que é a “minha”? A profissional com mudanças, orientada na perfeição ou a rasca com o cesto, encostada às sortes e acasos?
E há o lidar com a morte. Os falecimentos são diários e sentidos na comunidade. É talvez a minha experiência mais pesada, com as maiores histórias de sempre. Sabem… guiei uma carrinha de caixa aberta... para um funeral. Sim, fui eu que guiei o carro. Não me sabia capaz. Não imaginei medos ou constrangimentos. Senti-me totalmente integrada na vida. Nem triste, nem feliz. Só completa. Foi cruamente natural.
Os maiores do mundo:
porque me enchem a alma,
Você é uma pessoa rara e de uma força descomunal...
ResponderEliminarFinalmente conhecemos os meninos e as meninas.... Mais tarde comento.
ResponderEliminarBeijinhos.
Prima Ana
Megas fotos....e as historias sao fantasticas, um mes bem preenchido... xeinho de coisas boa.
ResponderEliminarAproveita que em menos de um fosforo estás de volta.
Se eu estivesse aí contigo, tinhas visto o escorpião no telhado e, ter-te-ia dado um beijo no pescoço... como fazia com a tua mãe.
ResponderEliminarSó que, com ela, o escorpião era imaginário...
Continuo a saborear o teu tempo em África e,
principalmente a senti-lo
foge, foge, tirem-me isto daqui...
ResponderEliminarnão, não o matem, deixem-no ir à mãe...
quem somos nós afinal para marcar o destino dos outros?
o nosso destino e o destino dos outros fazem a teia de vidas que sustenta, ampara e impulsiona a nossa ambição.
porquê resistir, emaranhar, amarrotar e destroçar, quando é possível tecer, suavizar e construir uma rede social que brilha para os que a percorrem.
És uma bela aranha que com determinação estabelece pontes, une seres humanos e (re)constrói caminhos que nos ajudam a sonhar, a ousar seguir-te, a admirar a tua obra e a saborear os teus momentos.
Obrigada, tudo de bom e até já
Manel
Lembras-te da história (verdadeira) da Avó Branca que meteu a mão na caixa da costura, e agarrou um escorpião?... Não há dúvida que tens sorte, o teu ,caiu num balde...
ResponderEliminarBeijinhos
Eu tinha um ataque se visse um escorpião, no Verão tive um ataque de choro com uma centopeia, imagino um escorpião... Como a minha mãe gosta de dizer a gozar comigo, começava a hiperventilar!
ResponderEliminarBeijinhos da Prima Rosa =)
Bípede:
ResponderEliminarSer uma "pessoa rara", como me descreves, pode não ser obrigatoriamente bom! ehehehe! Quanto à "força descomunal"... Tenho-a no meio das minhas fragilidades.
És sempre muito carinhosa, obrigada! Beijos
Vemo-nos no Passaporte Húngaro? (ahaha)
Ana:
Então mais tarde comento-te também!
Cima:
Vocês acham que só passou mesmo um mês? Não pode ser... num mês não cabe tanta vida... devemos estar todos a fazer confusão! ehehe
Nanda:
Minha querida tia, imagino tão bem a imagem das duas manas...
A tua África que agora vivo marca-nos de forma especial. Fico feliz que sintas uma ínfima parte disso através de mim.
Muitos beijos
Manel:
Se me tivesses chamado aranha há uns dois anos teria saltado imediatamente para cima de uma cadeira, só com a imagem. depois destas experiências... aprendi a lidar com esses seres e deixei de ter medo. Nunca imaginei possível.
"porquê resistir, emaranhar, amarrotar e destroçar, quando é possível tecer, suavizar e construir uma rede social que brilha para os que a percorrem". Não tenho nada a acrescentar... penso exactamente assim.
Obrigada! Muitos beijos
Céu:
Adorei o parenteses com a palavra verdadeira! ehehe! Mais fantástico que a minha sorte foi o azar do bicho!! Aquele balde nem costuma estar naquele sítio!!
Beijos
Rosa:
AHAHA! Imagino perfeitamente a tua hiperventilação!
(Não te esqueças que a centopeia também deve ter começado a hiperventilar mal te viu!!)
Beijinhos
São tão boas as tuas histórias! A parte de teres guiado a carrinha e de te teres sentido completa. Consigo perceber-te. Deve ser muito bom estar por aí. Quanto às capulanas, é muita ousadia pedir que me tragas uma quando regressares à Europa? Sou louca por elas :-)
ResponderEliminarBeijos
Que sorte, tiveste um prego no pão no prato! Talvez tenha ficado mais caro no fim... :)
ResponderEliminarA tua bicicleta...humm, é a do cestinho na frente!! Se for talvez venha a facilitar o transporte da comida em sacos de plástico pretos que se rasgam a meio caminho.
O morcego-no-canto-do-quarto vai-te ensinando como te orientares por ecos? :) Um pouco de guano na nossa hortinha...em vez de azedas talvez tivéssemos alfaces!
Muitos beijinhos
Hum que bichinhos simpáticos!!!
ResponderEliminarAinda estou ligada a uma máquina portátil
ResponderEliminarpara acalmar. Acho que também hiperventilei.
O escorpião e o morcego deram cabo de mim.
Acho que não pareço uma africana de gema.
De gema não, de clara ! Ehehehehehe (odeio
estas brincadeiras com os nomes). Detestei
os bichinhos e adorei as crianças. Lindas !
Mãe
Vera:
ResponderEliminarObrigada! Quanto às capulanas... nunca acho ousadia perguntar desde que se saiba que podemos ter respostas que nos desagradem! ehehehe! Se fizer compras (nem sempre acontece quando viajo) levar-te-ei uma de certeza!
Muitos beijnhos
Rita:
AHAHA! Acertaste na bicicleta! Tem servido também para carregar água, porque eu não consigo equilibrá-la na cabeça (ainda!!)
Quanto ao morcego: então é por isso que ando tão orientada por estas bandas!? Eu estranhava-me mas afinal é dos ecos! Se calhar vou mesmo pensar em plantar alfaces... mas dentro de casa!! Não calculas a quantidade de guano que por aqui se encontra! ehehe
Beijinhos
Clara:
Até agora têm sido de uma simpatia rara! Espero que assim continuem. Para não haver dúvidas lanço-lhes todos os dias o maior dos meus sorrisos pepsodente.
Beijos
Mãe:
Gema e Clara!! Depois do que se sofre durante a infância ainda brincas?! ehehe
Calma madresita, tenho melhorado o meu radar (ando a aprender com os morcegos). Uso os ultra-sons para diversos fins: para me desviar dos bichos e para as massagens nas pernas no final do dia como fisioterapia!
Muitos beijos
Oh Clara a tua vida nunca mais volta a ser a mesma, vens daí cheia de historias para contar, e com uma experiencia de vida extraordinária.
ResponderEliminarOs bichos não sei se aguentava, agora essas crianças dão cabo de mim, são a minha paixão.
És uma pessoa especial, obrigada pelo que andas a fazer por essas almas tão necessitadas.
Beijos
Magda
Eis porque não consegui comentar antes: já viste o olhar daquela criança, da que tem a mão na testa....?
ResponderEliminarImaginei-te a tirar aquela fotografia e depois ver o olhar da menina.... Que fotografia tão bonita.
E ainda agora não tenho palavras para comentar, mas devia-te uma explicação. Enche mesmo a alma.
Beijinhos.
Prima Ana
Magda:
ResponderEliminarSim, terei muitas histórias para contar... mas todos temos. Eu escolhi estar disponível para estas experiências, nada mais do que isso. Não queria estar noutro lugar, acrescento-me como pessoa... não acho que isso me torne uma pessoa especial.
Mas obrigada pelo teu constante apoio!
Muitos beijinhos
Ana:
Eu imaginei... conheço-te. A foto foi tirada por causa do olhar, não o contrário. É linda e dou-lhe vários abraços todos os dias. Também se ri, mas sempre com esta profundidade. Todos eles parecem guardar mistérios. Eu... vou aprendendo.
Beijos
Olá Clara, por favor traz-me o escorpião, a Ana anda doida para ter um animal de estimação e eu queria dar-lhe algo original.... ;) As fotos estão excelentes adorei a última em que se nota claramente que já ensinaste os miudos a festejar golos do Benfas ;) Muitos beijinhos e continuação de uma óptima aventura!!!!
ResponderEliminarAndré:
ResponderEliminarahahah! Tiveste piada! Estou indecisa entre um escorpião e uma black mamba... até ao fim decido o que levar!
Por acaso aquela foto foi depois de uma aula de ginástica em que além de imitarem animais tinham que fazer de pequeninos e depois de grandes, gigantes, como se quisessem tocar no céu... a foto foi muito espontânea porque quiseram mostrar o que tinham aprendido. (grandes, gigantes, tocar no céu... boa ideia! para a próxima digo-lhes só: vamos imitar o Benfica!ehehe)
Beijinhos
Neste momento as saudades apertaram.
ResponderEliminarUm mês tanto pode ser sentido como poucos
dias, como muitos e muitos dias !!
Eu sou como o mês, tenho dias ... e hoje o
dia foi grande.
Mãe
Os meninos são lindos, a vida é boa quando se faz alguma coisa pelos outros mas aqueles animaizinhos são uns monstros!!!Acho bem que tenham posto a rede, já a deviam ter posto há muito tempo!Muitos beijinhos.Teresa MF
ResponderEliminarLá me fizeste tremer uma vez mais... *
ResponderEliminarBeijinhos
Agora já passou quase um mês e meio... e tantas histórias para contar! Mais uma vez adorei vivê-las contigo... as tuas palavras e as fotografias que escolhes transportam-nos mesmo para aí...
ResponderEliminarTambém adorei a da menina que dá vontade de dar beijinhos nas bochechas :)
Muitos beijinhos e sorrisos para todos os meninos e para ti, priminha!
Quando você fala das perdas sei bem o que significa tentar naturalizar as mortes. Aprendi à duras penas e muitas lágrimas depois que me aproximei de uma abrigo de crianças com Aids.São poucas, a capacidade de lá é somente para 17 crianças.Mas conheço-as todas pelos nomes.Como era pelo nome também que conheci à outras que infelizmente não sobreviveram.E nem sempre foi pela doença, muitas vezes por violência e maus tratos sofridos antes do abrigo, que deixaram sequelas irreversíveis. E sei que irão e virão outras.E eu tento me acostumar, mas meu coração aperta cada vez que uma se vai seja ela João, Maria, José, Pedro ou Ana. Lá eu até que vou bem, mas quando chego em casa e coloco a cabeça no travesseiro para dormir é que me dói.
ResponderEliminarFINALMENTE!!!! O morcego... tantas noites que o ouviamos mas não o viamos. e é tão bom rever o Macamo, com aquela doçura de quase "Bom Gigante" que se esocnde num buraquinho... e depois ressona daquela maneira a noite toda. Ele é único... já conhecia a história do escorpião pelo Filipe, a mim... quase que me cairam 2 osgas ENORMES em cima em plena cópula hehehehe. É tão bom saber que continua tudo como dantes... Choro a cada palavra tua, dói a saudades da distância, aperto o coração no peito... kanimambo...
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