Como me vejo nos próximos dias:
A abraçar pacotes de bolachas, rissóis de camarão e chocolates Cadbury e Milka e Nestlé; a mergulhar numa piscina de galões de máquina e bicas cheias; a secar-me em fatias de pão saloio cortado grosseiramente, enquanto me empanturro de azeitonas e vejo se consigo que os caroços cheguem o mais longe possível (sou menina, não é? Está bem, atiro-os com a mão)… e não estranho o pensamento.
Porque tenho toda a razão dentro do ser.
Porque vou a Maputo.
(vou a Maputo!)
E podia fingir que não vou de Chapa, que não está calor, que não são 7 horas de viagem. Que posso escolher o lugar, evitar pernas e braços a atravessarem-me as frentes, e o calor, já falei no calor? Que não vai parar de 5 em 5 minutos para entrar mais gente, porque não cabem, ou então cabem, pois… cabem. Mas não posso, são tudo imagens reais, quase jurava com cruzes e dedos e mais juras que são verdadeiras e que é precisamente o que me vai acontecer. E acrescento que vou ficar com bigodes de leite e café até voltar ao Chibuto, como memória pintada de um tempo tão áureo.
Não vou fingir. Porque se fingisse uma unha que fosse, o que tenho vivido desabava por abafo.
E a tempestade que vivi ontem não tinha sido tão avassaladora, não me teria apercebido que os relâmpagos por aqui caem na vertical, maiores do que o som, maiores do que a imagem que cabe nos olhos. Que o simples facto de ter chovido após duas semanas de um calor sufocante nos pode causar uma felicidade comovente; Não me apercebia que enquanto viajo de Chapa posso concentrar-me na enorme vida das pessoas de dentro ou inclinar-me para fora, o mais que puder, e ensurdecer-me com o vento; Não aproveitava este desejo alucinado de comer, de saborear o conhecido, elevado aos quadrados, cubos e exageros apenas por estar a viver o outro lado do mesmo mundo.
Não posso fingir que ontem, enquanto tirava baldes de água, com água pelos tornozelos, dentro de casa, não me rendi à enormidade deste continente. E que quando desisti de lutar contra a força inevitável, quando me fui deitar, não foi um simples fechar de olhos.
Era como se estivesse a descansar-me do espanto.
(este fim-de-semana, quando tiver uma bebida na mão da noite, em Maputo, partilharei convosco o meu brinde. À nossa... vida. tchim-tchim).
A abraçar pacotes de bolachas, rissóis de camarão e chocolates Cadbury e Milka e Nestlé; a mergulhar numa piscina de galões de máquina e bicas cheias; a secar-me em fatias de pão saloio cortado grosseiramente, enquanto me empanturro de azeitonas e vejo se consigo que os caroços cheguem o mais longe possível (sou menina, não é? Está bem, atiro-os com a mão)… e não estranho o pensamento.
Porque tenho toda a razão dentro do ser.
Porque vou a Maputo.
(vou a Maputo!)
E podia fingir que não vou de Chapa, que não está calor, que não são 7 horas de viagem. Que posso escolher o lugar, evitar pernas e braços a atravessarem-me as frentes, e o calor, já falei no calor? Que não vai parar de 5 em 5 minutos para entrar mais gente, porque não cabem, ou então cabem, pois… cabem. Mas não posso, são tudo imagens reais, quase jurava com cruzes e dedos e mais juras que são verdadeiras e que é precisamente o que me vai acontecer. E acrescento que vou ficar com bigodes de leite e café até voltar ao Chibuto, como memória pintada de um tempo tão áureo.
Não vou fingir. Porque se fingisse uma unha que fosse, o que tenho vivido desabava por abafo.
E a tempestade que vivi ontem não tinha sido tão avassaladora, não me teria apercebido que os relâmpagos por aqui caem na vertical, maiores do que o som, maiores do que a imagem que cabe nos olhos. Que o simples facto de ter chovido após duas semanas de um calor sufocante nos pode causar uma felicidade comovente; Não me apercebia que enquanto viajo de Chapa posso concentrar-me na enorme vida das pessoas de dentro ou inclinar-me para fora, o mais que puder, e ensurdecer-me com o vento; Não aproveitava este desejo alucinado de comer, de saborear o conhecido, elevado aos quadrados, cubos e exageros apenas por estar a viver o outro lado do mesmo mundo.
Não posso fingir que ontem, enquanto tirava baldes de água, com água pelos tornozelos, dentro de casa, não me rendi à enormidade deste continente. E que quando desisti de lutar contra a força inevitável, quando me fui deitar, não foi um simples fechar de olhos.
Era como se estivesse a descansar-me do espanto.
(este fim-de-semana, quando tiver uma bebida na mão da noite, em Maputo, partilharei convosco o meu brinde. À nossa... vida. tchim-tchim).
Há um ano escrevi algo sobre uma pessoa muito importante na minha vida que me deixou e aqui vai para ti.
ResponderEliminar... pela nossa vida passam muitas pessoas, umas ficam outras partem ... a vida é como umas escadas rolantes onde nos vamos cruzando com pessoas ... talvez cada pessoa que passe por nós passa de uma forma passageira ... e depois há aquelas que chegam á nossa vida e permanecem ... e ainda há aquelas que mal chegam nós sentimos que é para sempre ... e se desaparecerem deixam uma marca enorme ...
tu vais ficar na história de muitas vidas.
1 bj
Magda
Isso é que vai ser, boa viagem e um grande tchim-tchim.
ResponderEliminarborboleta,
ResponderEliminarPlatão dizia que o belo é o bom e que as coisas belas não são o belo, são apenas a forma como o vemos...
Eu vejo o belo em todas as coisas, ou vejo coisas belas em todo o lado. Não se pode dizer o que é O belo, porque não existe definição para ele, e olha que Platão bem tentou. Ele apenas dizia que o belo tem de ser bom, porque o bom é útil.
Mas se assim fosse, o que faríamos com as palavras? Sobretudo aquelas que não nos servem para nada? Seriam todas feias, porque inúteis?
Para mim, tu és o Belo. Porque virtuosa no mais puro sentido do termo. As tuas palavras são belas porque saem-te da ligação que manténs com o sublime estado de graça em que te encontras sempre e que nos colocas a nós, todos os outros que te seguimos e avidamente te lemos.
Os orientais chamariam ao que fazes Seva, ou serviço em prol dos outros, por forma a chegar a deus, à iluminação.
Nesse sentido, tu serias o belo porque útil e lá voltaríamos a estar de acordo com o nosso amigo Platão...
Mas eu prefiro dizer que tu és uma borboleta iluminada pelo belo, és a coisa bela que nos permite acreditar que de facto existe um deus, uma força avassaladora que nos eleva e revela que de facto existe o bem!
Só por isso, mereces partir para um lugar onde o confortável e o conhecido farão parte dos teus dias...
espero bem que aproveites os bigodes de leite e café e os rissóis de camarão e as fatias de pão saloio cortado toscamente e tudo o mais que te for permitido por esse corpito franzino e comilão!
Beijos
É fantástico! Como não tens medo da trovoada...Da chuva forte!Da natureza no seu pior!Como aguentas todo esse calor...
ResponderEliminarCom esse "ar" tão frágil, és um VULCÃO! A tua mãe deve ter muito orgulho de ti! Só pode!
Sou feliz por te conhecer...
Lurdes Lima
... não te esqueças de pôr as mãos no copo do
ResponderEliminargalão, como tu gostas de fazer!
E tchim-tchim... a ti !
Beijinhos
Não há nada, mas nada tão bom como ir para a rua, abrir os braços e apanhar com essa chuva toda em cima e rir, rir muito! Difícil é explicar essa sensação de plenitude a quem não é africano. O medo só vem depois.
ResponderEliminarO que acho engraçado em ti, é já não seres
criança, não seres africana e "sentires" essa
terra como tua. Ainda bem. Essa tua capacidade
de amares as "Terras" todas do mundo. Torna-te
maior e de certeza melhor.
Mãe
Oh que falta imperdoável....
ResponderEliminarTchim Tchim
Mãe
Lindo!!!
ResponderEliminarTudo lindo!!!
Boa viagem à Cidade Grande
Um beijo enorme
Magda:
ResponderEliminarmais uma vez obrigada pelas tuas palavras. Fazes-me sentir especial... o que pode não ser bem verdade... mas obrigada.
Clara:
Tchim-Tchim!!
Patrícia:
Não fosse eu ateia...
O Belo misturado com o rissol de camarão!! Muito bom!
Obrigada! Pelas (exageradas) palavras.
Muitos beijos
Lurdes:
Não tenho medo? Claro que tenho! Só não me impede a vida...
Mãe-filha: é um orgulho mútuo.
Muitos beijinhos. Obrigada!
Céu:
- Mas quer o galão quente com este calor?
- Quero. Muito. Pode trazer já outro.
O suor enquanto abraço o galão é simplesmente perfeito.
Mãe:
Já não sou criança? Não sou africana? Daqui a nada vais-me dizer que sou branca? ehehe
Foi o que fiz durante uns 10 minutos, apanhar só chuva, depois tive que voltar para os baldes.
beijo
(tchim-tchim)
Vera:
Está a ser, está a ser... maior do que imaginava!
Beijos
Cá estás tu a emocionar-me, como sempre. Ontem também caiu uma trovoada forte em cima de minha casa, mas foi uma trovoada europeia, bem comportadinha, e eu estava no conforto da cama, abraçada ao mais-que-tudo. E mesmo assim tremi. E cá estás tu (TU!!) com uma história destas. Depois de tudo isto, subiu-me uma lágrima aos olhos quando li o teu comentário à tua mãe. "Já não sou criança? Não sou africana? Daqui a nada vais-me dizer que sou branca?" eheheheheh Tchim-tchim!!
ResponderEliminar"Pensa. E pensa bem.
ResponderEliminarSente. E respeita o que sentes.
Intui, e segue a tua luz.
E serás harmonioso.
E serás equilibrado.
E serás feliz".
Não sei de quem é, mas é para ti.
Tchim-tchim.
Ahhhh! E partilho a adoração de galões e meias-de-leite SEMPRE de manhã e à tarde, mesmo com 40º. E o sabor de uma chuva quente.
ResponderEliminarOlá Clara!
ResponderEliminarQue nem te passe pela cabeça que alguns dias sem te dizer nada significam que deixei de cá vir... de te acompanhar!
Nada disso, venho cá todos os dias (ainda hoje o disse na escola), mas nem sempre tenho tempo para te mandar mensagem (além disso estive uns dias nos Açores). :)
Continuo por aqui... e quero que contes comigo!
Beijinhos
Mizé
Ana:
ResponderEliminarPelo que vi nas notícias, em Maputo, as tempestades europeias também não são mansas. Impressionou-me o que se passou na Madeira...
Tchim-Tchim, prima!
Quita:
Instinto, instinto, instinto... é precisamente como oriento as minhas escolhas na vida. E depois penso tanto...
Obrigada pelo poema.
Muitos beijos!
(e quando é que tomamos um galão juntas?)
Mizé:
Eu adoro abrir o blogue e ver os vossos comentários. Tal com respeito quem não lhe apetece expôr-se e prefere a "intimidade" do mail... Como estou do outro lado do mundo conforta-me saber-vos aí. Tens sido impecável comigo! A tua força tem cá chegado!
Açores... É dos lugares mais bonitos e encantadores do mundo! (e já conheço alguns! ehehe!)
Beijinhos
(qualquer ajuda que queiras dar agora, tem que ficar em standby! Tenho que ver como corre este projecto e encontrar outros. Vou estando sempre em contacto contigo! As pessoas têm sido de uma solidariedade impressionante!)
Não te subestimes, és especial SIM.
ResponderEliminarHá tanta gente a dizer que gostava de fazer isto e aquilo, mas pegar nas roupas e ir é muito diferente. És uma corajosa, não te conheço, mas orgulho-me de ti, pela pessoa que és, pela forma como pensas e pelo que fazes por ti e pelos outros. Sei que o voluntariado é algo que se faz para os outros, mas é algo muito interior, é uma procura por algo, quando a nossa vidinha já não nos chega ou não preenche na totalidade sabemos que algures alguém pode precisar de nós e podemos fazer a diferença. É isso que tu estás a fazer, A DIEFERENÇA.
Beijos
Magda