quinta-feira, 18 de março de 2010

Dias com tempo

Centro Comunitário (parede pintada por voluntários da ONG)
Ultrapasso 2 meses com aquela leveza profunda de não me sentir a aproximar. Nem de um fim. Nem de um começo. Vivo entre balanços de terra e uma realidade que nem me permite inventar. Ofereço-a como a sinto. Como sei.
- Olhem, vêem esta imagem? É feita de história…
(e tiro-a do bolso com a esperança que consigam sentir o que estas mulheres levam à cabeça)
- E este som? Este cheiro? Esta urgência de guardar toda a água?
Sentem?
É entre fomes e exageros que se passam os meus dias entranhados nas vidas de cá. E se há momentos de silêncio outros quase me devoram em grito. Se uns me apagam pedaços de alma outros divertem-me o íntimo:
Em Maputo a pedir uma bica.
- Cheia, por favor.
(10 minutos depois)
- Desculpa, não vou poder lhe trazer. A máquina está a negar…
Como não desfazer-me num riso de dentro…?

Quer seja simples ou da maior complexidade, uma conversa, pessoa ou situação, por estes lados não existe meio-termo, esse tom aborrecido que nos leva ao desprazer.
Talvez por isso me sinta tão em casa.
Quotidianos,
Sentem?

Água... sempre a carregar água. E o pormenor gigante das capulanas: fazem parte do corpo e multiplicam-se em utilidades. Aqui nasce-se numa capulana, é-se transportado durante a infância e envolvido por uma na morte...





Quando se está triste...

Pensa-se noutra coisa. (Podíamos brincar?)

Aqui ou em outro qualquer lugar do mundo: onde há um espaço plano há duas balizas... (e treinadores de bancada!)

Tão quente, tão rápido, tão forte.


Em trabalhos manuais,

em felicidade por se estar a aprender.
O meu silêncio,




E os meus contrastes.

Café do Chibuto

e em Maputo...
E é como vivo por cá. Cada momento com as minhas histórias dentro.

12 comentários:

  1. Mais uma vez, obrigada pelas tuas imagens (sejam foto-grafias - como disseste num dos primeiros posts - ou fotografias). Fico sempre com a sensação de não saber o que dizer, nem como... acho que é da intensidade.
    Muitos beijinhos e continua a aproveitar muito os dias! ;)

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  2. Lembras-me cada vez mais o "tal poeta"... é impressionante!
    A fotografia com os teus meninos está linda, linda e arrepiante.
    Nem sei que diga...não tenho palavras.
    Que triste sina, sempre a carregar água, sempre. Por aqui me fico, minha querida sobrinha. (Vou chorar um bocadinho com a tua Mãe)
    Beijinhos

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  3. És especialista em fazer-me compreender-te.
    Começo por soltar uma gargalhada (em surdina, mas muito cúmplice). Para logo de seguida
    sentir a garganta a apertar-se. Fecho os olhos. Tão rápido, tão quente, tão forte.
    Vou saltar os teus silêncios (magoam-me o coração).
    Prefiro guardar para o fim a tua turminha,
    o sorriso luminoso dessa criança.
    Respiro fundo e começo a sorrir.
    (Demorei a comentar porque estive a dar lenços à tua tia!!)
    Mãe

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  4. Fico sempre como a Inês,sem saber o que comentar.Desaparecem-me as palavras e os sentimentos.Mas, sinto que precisas, pelo menos,de saber que estou a pensar em ti

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  5. Inês:
    Isso de ficar sem palavras é "violento" para mim, como calculas... mas entendo-te. Gosto sempre das tuas nem que sejam um simples olá!
    Muitos beijos

    Céu:
    Força, minha tia! Mesmo que nos choremos por dentro rimo-nos com a mesma intensidade.
    Beijões

    Mãe:
    E tu és especialista em fazer-me fazer: não achas que já era tempo de escreveres e tal...? Cumplicidades.
    Beijos e abraços

    Nanda:
    E não calculas como é bom sentir isso estando num longe tão a Sul do mundo! Obrigada...
    Beijocas

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  6. Oi LINDA, mais uns dias plenos de momentos e sentimentos tão profundos que nem o tempo os consegue apagar.
    Se fosses criança (não é que em parte o sejas) diria que se nota que dia para dia te transformas numa mulher. Como já és mulher (linda de paixão)pressinto que o teu mundo se transforma gradualmente em universo, cheio, a trasbordar, de humanidade, solidariedade e responsabilidade social.
    Ai que dor de cotovelo ao pressentir a força que tens quando partilhas as tuas emoções.
    Sei que sentes o nosso apoio e orgulho de poder chamar-te AMIGA. Se ao leres esta mensagem sentires uma brisa "morna", deixa-te envolver pois ela leva o meu mais terno e apertado xi-coração.
    E pronto, adoro-te
    Manel

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  7. De tudo o que tenho lido sobre a viagem e a missao que,lentamente, se vai chegando ao fim,so gostava de dizer te que bela essa forma de dizeres que nao podes conviver com a com a dor dos outros sem sentires a dor em ti propria! Mesmo sabendo que podias estar aqui, e deste lado,na prospera Europa.Por tudo isso, e muito mais, te adoro e tenho por ti aquela grande mas mesmo grande Admiracao! Mario P.

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  8. Mário P. mais conhecido por Pai:
    Já tinha saudades das tuas palavras.
    Felizmente estes momentos que doem são também vividos com o seu contraste. É que este mundo de cá tem aquele sabor antigo da História e da pura novidade. E eu... dentro de todo esse meio sinto-me só a respirar vida. Não podia mesmo estar noutro lugar.
    Muitos beijos

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  9. Manel:
    Acreditas que senti mesmo essa brisa morna?
    É com um carinho enorme que leio os teus comentários. Confortam-me e enchem-me de força!
    Obrigada pelo que me dizes e sentes...
    Retribuo o terno e apertado xi-coração!
    Muitos beijos
    (por muito "crescida" que me esteja a tornar um dos meus melhores momentos do dia é quando regresso do Centro Comunitário e escolho um caminho de terra com lombas para me divertir com a bicicleta... Infantilidades!)

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  10. Quase não consigo controlar as lágrimas que se misturam com os sorrisos ao ver essas caras, essa côr da terra que tão familiares são para mim....

    Eu fiz parte do grupo de voluntários que pintou essa parede (fiz os desenhos...quem diria vindo de uma engªa física que nunca antes desenhou na vida...todas pintámos, misturamos cor, ficamos doentes de tanto sol apanhar na cabeça...mas marcámos essa parede, demos alegria como que em agradecimento de toda a alegria que sentíamos ao estar aí)...vivi esse sonho, senti esses cheiros e sabores e agora morro de saudades, contando os dias até poder voltar...obrigada por continuares a ajudar essas pessoas que tão queridas me são...obrigada por partilhares fotos novas...é bom ver a evolução!!!

    saudades do país da terra vermelha

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  11. Deixaste-me sem palavras... encheste-me de lágrimas de saudades... Assim como nos marcas com as tuas palavras, também nós passámos pelo mesmo. Permite-me convidar os teus seguidores a conhecerem um pouco do que fizémos no ano passado. Aqui -

    http://nyumbakaya2009.blogspot.com/ .

    Ver a nossa parede emociona-me sempre...

    Toca essa terra por mim...

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  12. Joana e Vitó:
    Que bom ler os vossos comentários!!
    imagino o que sentem porque já começo a prever que vou senti-lo também...
    Não faço ideia de que sítio de Portugal são mas adorava conhecer-vos (e afinal Portugal para os parâmetros daqui é tão pequeno que a distância não será uma desculpa!!).
    Darei um beijo vosso à Irmã Catarina e a esta terra para vos diluir a saudade...
    Muitos beijos!

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